17 de set. de 2023

 

Capítulo 1 – Introdução à medicina física e de reabilitação (MFR)

João Páscoa Pinheiro

 

 

Conceitos de reabilitação médica, a doença e as suas consequências, a funcionalidade e MFR como especialidade médica.

 

1 - Principais objetivos formativos

 

- O conceito de reabilitação e a importância da medicina de reabilitação na cultura médica; as consequências da doença e os modelos da Organização Mundial de Saúde (OMS).

- O conceito de função e de qualidade de vida (QV); a classificação internacional da funcionalidade; o conceito de avaliação funcional e o interesse deste procedimento métrico.

- A história da MFR e o seu enquadramento em diferentes culturas medicas. A MFR na Europa e as estruturas representativas.

- As especificidades da história clínica em MFR; a instrumentação métrica e o processo de avaliação funcional; as principais atividades e competências do médico especialista em MFR.

 

2 – Conceitos de reabilitação

 

Um número crescente de indivíduos necessita dos cuidados medicina de reabilitação tornando esta área um elemento incontornável da nossa cultura. Os três Livros Brancos Europeus (1a) (1) (2) referem um número crescente de cidadãos a necessitarem diariamente destes cuidados, estimando-se atualmente este valor em 20% da população. O aumento da esperança de vida, a perceção que a funcionalidade é um dos pilares estruturantes da QV e a crescente evidência de que a as práticas reabilitadoras reduzem os custos globais da doença ativa e das suas consequências, justificam a crescente atualidade da medicina de reabilitação. Trata-se em boa verdade de potenciar a ideia de funcionalidade, enquanto conceito inclusivo e um direito de cidadania.

O conceito de reabilitação envolve todo o sistema de prestação de cuidados de saúde, tanto na dimensão preventiva como curativa (3).

Apresenta-se como um conjunto de medidas coerentes e coordenadas no âmbito médico, social, educativo e económico, tornando-a assim um elemento sensível na abordagem das consequências das doenças e na definição dos limites do prognóstico funcional.

Trata-se de implementar uma filosofia de responsabilidade médica, mais que uma prática sistemática de restauração de capacidades; fica expresso o seu carácter universal, obrigatório em todas as decisões clínicas e em todas as especialidades médicas, mas também um tema obrigatório da consciência social inclusiva e um sentir legislativo nas diversas políticas de saúde. De certa forma deve ser entendida como uma boa prática médica a ser observada na clínica quotidiana.

Reabilitar enquanto “o restituir de direitos ou prerrogativas que se perderam” e reintegrar como “o restabelecer em algum cargo“são vocábulos de crescente utilização, globalizados na acessão da palavra, elementos do nosso quotidiano, aplicados nas ciências da saúde mas também em diferentes áreas da sociedade, ainda que com significado aproximado ao conceito essencial.

A reabilitação é cada vez mais um processo de ajuda, tornando possível ao cidadão atingir o mais completo potencial físico, psíquico, social, profissional e educacional segundo a sua deficiência, a limitação ambiental, as expectativas e os legítimos planos de vida (3).

A OMS define reabilitação como o uso de todos os meios necessários para reduzir o impacto da incapacidade e da desvantagem e ajudar as pessoas com limitações a obter uma boa integração social (1) (3).

O acesso à reabilitação enquanto direito fundamental do cidadão está consagrado em diferentes documentos e datas comemorativas com expressão institucional; de referir a “United Nations Standarts Rules” em 1993, o “European Year for People with Disabilities” em 2003, a “Resolution 58.23 of the World Health Assembly on Disability Including Prevention, Management and Rehabilitation” em 2005, bem como diversas legislações nacionais de cariz inclusivo para o cidadão portador de deficiência.

A “Norma 3 da United Nations Standart” refere que os governos devem desenvolver os seus próprios programas de reabilitação, interpretando os princípios de participação e igualdade. A “Resolution 58.23 of the World Health Assembly” indica aos subscritores que devem participar nas atividades que previnam a incapacidade, promover programas baseados na comunidade, interagir com os cuidados de saúde primários, facilitar o acesso à tecnologia de reabilitação e produtos de apoio, facilitar o acesso a cuidados diversos e implementar medidas preventivas.

Também o Conselho de Europa propõe legislação no âmbito da incapacidade e direitos, abrangendo a prevenção da incapacidade e a educação para a saúde, a sua identificação e diagnóstico, o tratamento e ajudas terapêuticas, a educação, o aconselhamento vocacional, o emprego, a integração social e o ambiente, a proteção social, económica e legal, a informação, a estatística e a investigação.

O doente é um elemento ativo do todo o processo, participando na criação e desenvolvimento de estruturas de integração e na prescrição dos produtos de apoio. Como exemplo deste sentimento inclusivo refira-se o Programa Hélios (1990-96), cujo objetivo era dar possibilidade aos europeus com desvantagem de poderem viverem de forma independente, eventualmente em ambiente de trabalho não protegido.

A reabilitação médica deve, pois, intervir de forma ativa nas patologias de fase aguda, subaguda e crónica, baseando-se numa abordagem global do doente e da sua circunstância, usando o conhecimento e a experiência de diversos grupos profissionais e suportes institucionais. É uma prática terapêutica que se pretende implementar do hospital à comunidade e desta à residência do doente.

Considera-se cada vez mais ser razoável esta conivência entre o sentir médico e o social, um todo coerente e ininterrupto; o deficiente tem direito a uma existência plena, no espaço social considerado adequado, preferencialmente a sua residência.

O conceito de reabilitação foi também já identificado como uma 3ª fase da assistência médica, depois da medicina preventiva, da curativa e cirúrgica (1) (2) (3); como já anteriormente referido, a intervenção reabilitadora comporta uma forte capacidade preventiva, reduzindo o tempo de acamamento e de imobilidade, limitando as alterações da mobilidade articular, da força e do tónus muscular, entre outras, e promovendo condições fisiológicas para uma normalização do funcionamento orgânico e para uma completa integração domiciliária. Trata-se de um processo ativo que também limita de forma valorizável o impacto das diferentes comorbilidades, cada vez mais frequentes na população europeia. No entanto o aumento da esperança de vida e a melhoria dos cuidados de saúde é acompanhado por um aumento das morbilidades, facto verificado em todos os grupos etários, sistemas orgânicos e patologias. Foram porém as populações geriátricas e as portadoras de deficiência física as que mais sentiram a necessidade de implementar programas que promovam o estilo de vida ativo, o viver independente e a QV.

O desenvolvimento desta área de conhecimento decorre de forma progressiva e sustentada, ainda que com diferentes organizações regionais e expressão cultural.

Constata-se uma crescente atualidade nos conceitos “reeducar, reabilitar, readaptar e reintegrar, incluir”, uma situação decorrente da identificação de consequências de doença ativa, particularmente quando a expectativa de cura não seja possível ou provável.       

A necessidade crescente dos cuidados de reabilitação médica justifica-se assim por algumas das razões que passamos a citar:

 

- A redução da mortalidade e morbilidade em todos os grupos etários decorre do melhor conhecimento dos processos fisiopatológicos, das novas terapêuticas e das novas metodologias de prevenção de doença, entre outras.

- O aumento do número de doentes com patologias crónicas, particularmente cardiovasculares, respiratórias, degenerativas do sistema nervoso central, osteoarticulares, oncológicas, entre outras.

- A elevada conflitualidade do meio-ambiente, nomeadamente a acidentalidade rodoviária, laboral, os conflitos bélicos, o sedentarismo e os múltiplos fatores de risco civilizacionais, entre outros.

- O envelhecimento das populações e em particularmente o grupo com mais de 85 anos, facto que determina um elevado número de morbilidades (doença cerebrovascular, sequelas de fraturas osteoporóticas, doenças do movimento, demências, arteriopatias dos membros inferiores, cardiopatia isquémica, osteoartrose, dor crónica ou o simples descondicionamento aeróbio por sequelas de acamamento prolongado, entre outros.

- Algumas caraterísticas específicas do contexto civilizacional, como por exemplo a traumatologia decorrente do exercício físico do desporto, tornando desta forma a macro e a microtraumatologia do desporto com incidência e prevalência crescente, contrariamente às outras traumatologias da comunidade. Por razões específicas a reabilitação na traumatologia do desporto adquire crescente protagonismo e especialização temática (4a)

 

No nosso mundo os conceitos e as expectativas pessoais evoluíram das preocupações da sobrevivência aos limites da incapacidade e da integração no meio ambiente. A consciência social fica cada vez mais crítica e exigente, promovendo a transferência de interesses, do médico para o doente, da doença para as suas consequências na tarefa e função e da instituição para o meio envolvente.

No século XX surge a perceção que um determinado quadros clínico condiciona cenários patológicos instáveis e limitativos da funcionalidade, questionando os estímulos existenciais, a necessidade de reformular atitudes e convicções pessoais e familiares, a perda de afirmação e prestígio social e a perda de qualidade de vida (relação dinâmica entre o estado de saúde, a função e a interação social) (1) (2) (3) (4).

A OMS apresenta em 1965 o modelo de Saad Nagi como uma primeira forma organizada de interpretar as consequências da doença ativa e o seu impacto negativo na funcionalidade (5) (6) (7) (8). São conceitos estruturantes a “patologia ativa”, a “deficiência”, a “limitação funcional” e a “incapacidade”. A incapacidade é descrita no modelo de Nagi como a consequência última da doença ativa e identificada como uma proposta relacional com o meio. Propõe um esforço compreensivo e sistemático dirigido à funcionalidade particularmente ao desempenho de atividades de vida diária.           

O conceito “patologia ativa” significa uma interrupção ou interferência com a normalidade e com os esforços de reparação, a “deficiência” interpreta uma anomalia ou perda na anatomia, fisiologia, órgão ou função, a “limitação funcional” expressa ou limitação de desempenho no indivíduo e a “incapacidade” uma limitação da função considerada normal para aquele indivíduo (5) (6) (7) (8).

Para Nagi o conceito de “limitação funcional” situa-se a nível individual, enquanto o conceito de “incapacidade” assume já uma dimensão social, fortemente relacional com o meio envolvente; trata-se de interpretar o desempenho de tarefas ou assumir protagonismos considerados adequados num ambiente e numa cultura.

Esta diferença conceptual entre “limitação funcional” e “incapacidade” dilui-se mais tarde em futuros modelos interpretativos das consequências das doenças; a história da incapacidade é variada e profícua, quase sempre dinamizada pelo desenvolvimento das ciências sociais (9).

Nagi refere que três influências são decisivas para conceptualizar o termo “incapacidade”, nomeadamente a reabilitação, a doença crónica e a compensação / benefícios oriundos das seguradoras ou estado.

Existem conceitos controversos, polémicos segundo Asch A e Fine M, referindo que a incapacidade está centrada no biológico, a deficiência é sempre a causa desta, o incapacitado é uma vítima e sinónimo de necessidade de ajuda e que é dominante relativamente às referências e às comparações sociais.

O modelo de Nagi é mais tarde discutido e aprofundado por Verbrugge e Jette (10) existem referências a fatores extrínsecos (cuidados médicos, reabilitação, outras terapêuticas, outros suportes externos, ambiente, …) e fatores intrínsecos, considerados de risco, tais como o estilo de vida, a capacidade de “coping” entre outros.

Diferentes tipos de atividades e desempenhos sociais têm sido descritos no cenário da “incapacidade” (6); são referidas as atividades de vida diária simples e instrumentais, atividades sociais (a profissão, a família, as relações com amigos e as comunitárias) e as atividades de lazer (tempos livres, atividade física, entre outras).

O National Center for Medical Rehabilitation Research (NCMRR) introduz o conceito de “limitação pela sociedade” como um “final de linha” relativamente à proposta de Nagi (11); este conceito refere-se a limitações ou restrições atribuíveis à política social ou barreiras (físicas ou atitudes) que limitam a completam participação na sociedade.

A OMS apresenta em 1980 o modelo ICIDH1 onde depois da doença ativa são conceitos estruturantes a “deficiência”, “incapacidade” e “desvantagem”. O modelo ICIDH1 é desenvolvido entre outros por P. Wood. (6)

A deficiência, enquanto perda de substância ou alteração de função ou de uma estrutura anatómica, fisiológica ou psicológica (tecidos e órgãos). A incapacidade, enquanto redução parcial ou total da capacidade para realizar uma tarefa ou uma atividade nos limites considerados aceitáveis para a espécie. A desvantagem, enquanto prejuízo social, uma limitação impedindo ou tornando mais difícil a representação de um dado protagonismo no meio envolvente e na sociedade.

O modelo ICIDH1 coloca o conceito de “handicap” ou “desvantagem” como o último a caracterizar as consequências das doenças, não como uma denominação individual mas como uma classificação das circunstâncias (5) (6) (8); trata-se de formular um enquadramento no meio ambiente, um fenómeno social, multifatorial.

Diferentes variáveis contribuem para a compreensão desta dimensão, nomeadamente a orientação, a independência física, a mobilidade, a ocupação do tempo, a integração social e a autossuficiência económica (5) (6) (8); uma incapacidade torna-se em desvantagem quando alguma das variáveis do meio se encontra alterada.

Fica sempre a associação entre “qual a restrição do individuo para assumir o papel considerado razoável” e “qual ou quais as limitações existentes no indivíduo”, no enquadramento do conceito “desvantagem”; o modelo ICIDH1 denota limitações em qualificar o prejuízo (especificamente do indivíduo) quando as restrições são diversas e pouco uniformes.

Nos Estados Unidos da América (EUA) a National Academy of Sciences publica o documento “Disability in América: Toward a National Agenda for Prevention” cujos autores Pope e Tarlov (12) aprofundam o modelo de Nagi, adaptam conceitos e envolvem novas dimensões, tais como a QV.

A QV é um elemento interativo no modelo proposto para a compreensão da incapacidade; trata-se de uma parte integrante da incapacidade, uma entidade dinâmica na qual os aspetos do bem-estar não estão somente relacionados com o estado de saúde.

Esta proposta contempla fatores de risco, referidos como biológicos, ambientais (físico, social, …) e comportamentais (o estilo de vida, …); são entendidos como fatores de risco o processo de diagnóstico, o tipo de programa terapêutico, o tempo de início, o tipo de financiamento existente, as barreiras arquitetónicas, entre outros (12).

O documento de Pope e Tarlov refere também o risco de desenvolvimento de “condições secundárias”, elementos potenciais de agravamento do processo de incapacidade; são apresentados como exemplos a úlcera de decúbito, a infeção respiratória enquanto sequelas da imobilidade prolongada, a depressão, a dor, entre muitas outras. A prevenção e terapêutica das “condições secundárias” é de grande interesse prognóstico, facilitando a completa exploração do potencial de reabilitação.

Trata-se de uma gestão médica cuidadosa e continuada, uma forma de clínica médica, direcionada à patologia da deficiência e incapacidade; este facto justifica a necessidade do acompanhamento clínico permanente e representa muito da conveniência na especialização médica.

A OMS define em 1993 o conceito de QV referido à saúde como a perceção pelo indivíduo do seu posicionamento na vida, no seu contexto cultural e sistema de valores, relativamente aos seus objetivos, expectativas, referências e inquietações (13); esta definição genérica é afetada pelo estado de saúde física, grau de independência (nível funcional), estado psicológico, relacionamento interpessoal e outras relações com o meio ambiente.

Pope e Tarlov (12) integram este conceito na dinâmica da “incapacidade”, considerando que ele pode resultar ou constituir uma causa de deficiência, incapacidade ou desvantagem; torna-se difícil perceber o momento em que a qualidade de vida fica em risco, à imagem da dependência no desempenho das tarefas quotidianas.

Em geriatria esta questão amplia-se com a problemática da reserva funcional existente; a natureza dessa reserva pode justificar diferentes consequências funcionais para patologias e deficiências similares.

Assim a qualidade de vida assume nos anos 90 uma perspetiva final de prognóstico, ao mesmo tempo que o movimento de “independent living” (14) constata uma progressiva perda de protagonismo.

O “viver independente” teve início nos anos 60, nos EUA no dinamizado pelos movimentos de direitos humanos e organizações de consumidores; este conceito difunde-se nos anos 70, “contaminando” as associações de deficientes e de cidadãos preocupados com a problemática da incapacidade.

Era sugerido que a pessoa com incapacidade fosse a mentora e gestora do seu futuro e das suas necessidades, devendo tomar a iniciativa individual e associativa, para encontrar soluções e pressionar o poder político (entenda-se o legislativo); pretendia-se que o deficiente assumisse em primeira instância os seus direitos de cidadania e só depois o papel de consumidor de saúde, de reabilitação ou de suportes sociais (15).

A desmedicalização, a desinstitucionalização e a rotura objetiva com o trabalho protegido, eram algumas das ideias chave, muitas vezes repletas de convicções teóricas mas com enormes limitações na prática assistencial.

A implementação de um novo modelo de incapacidade, numa dinâmica biopsicossocial, decorrente do sentir e organização da sociedade, dos avanços das ciências médicas e da implementação de novas tecnologias, leva a OMS a reformular a classificação das consequências da doença, apresentando a ICIDH2 (16) (17).

A OMS apresenta em 1999-2000 o modelo ICIDH2 onde depois da doença ativa são conceitos estruturantes a “deficiência”, a “atividade” e a “participação”. A deficiência referida ao nível do corpo, caracterizado na estrutura e na função e apresentando a perda de função como o principal fator negativo. A atividade referida ao nível da Pessoa e caracterizado pela possibilidade de desempenho de um conjunto de tarefas (atividades de vida diária) sendo a limitação / restrição dessa atividade o fator negativo. A participação, considerada no nível social, uma disponibilidade para um envolvimento com uma determinada situação, sendo o prejuízo ou restrição a esse envolvimento o principal fator negativo. Trata-se de um modelo evoluindo segundo os fundamentos do ICIDH1 (1980) que considera como consequências da doença três níveis, associados a fatores contextuais do indivíduo e do seu meio ambiente). São considerados fatores do indivíduo (intrínsecos) a idade, a carga genética, as patologias existentes e fatores do meio (extrínsecos) as barreiras arquitetónicas (escadas, portas estreitas, passeios elevados, …). Correndo o risco de imprecisões semânticas ou identificações redutoras dizer que reeducamos a deficiência, reabilitamos a incapacidade e readaptamos / reintegramos / incluímos a desvantagem.

Em termos conceptuais a medicina evolui do conceito biomédico para o conceito biopsicossocial onde a identificação das consequências da doença, a valorização das capacidades restantes e a exploração do potencial de reabilitação funcional surge como um direito de Homem.

 

3 – A reabilitação funcional

 

A revisão dos modelos interpretativos das consequências de doença (versão final de Maio de 2001) (16) (17) determina uma nova denominação, “The International Classification of Functioning and Disability”, com a sigla ICF; pretende também terminar com a ênfase negativa na descrição dos níveis (deficiência, incapacidade e desvantagem) e promover uma forma mais otimista sedimentada na função (17) (18).

Esta versão foi aprovada pela 54ª Assembleia Mundial de Saúde para uma completa utilização em 22 de Maio de 2001, expressa sobre a designação de resolução WHA 54.21.

O papel dos fatores ambientais é cada vez mais salientado, particularmente na sua ligação à função e à incapacidade (16), bem como no impacto do meio físico e social para a compreensão da condição de saúde.

Em Maio de 2000 a OMS promoveu uma revisão temática sobre “fatores ambientais”, considerando diversas “ideias chave” nomeadamente a instrumentação métrica, os produtos e tecnologias, a modificação do ambiente, as relações e suportes, as atitudes, as políticas e sistemas, as generalidades (16); o objetivo foi o de efetuar uma revisão compreensiva sobre a globalidade dos fatores e das suas conivências.

Pela sua capacidade interativa com a função, salientamos a instrumentação métrica e o prognóstico, as tecnologias e a facilitação das tarefas, as modificações do ambiente e a acessibilidade, as atitudes / valores e os comportamentos individuais / sociais, os serviços e a prestação de cuidados, os sistemas / políticas e os suportes institucionais.

A Classificação Internacional da Funcionalidade (CIF) representa um esforço da OMS para interpretar as preocupações planetárias na saúde e em particular na função; contempla uma mudança de paradigma, passando a classificar as componentes da saúde e não as consequências da doença (18).

A CIF estabelece também com a Classificação Internacional de Doenças - décima revisão) (CID-10 / WHO, Genebra 1992-1994) diversas analogias e complementaridades; a CID-10 permite um diagnóstico de doenças, perturbações ou outras condições de saúde, enquanto a CIF ilustra a condição funcional e a expressão da incapacidade.

Exemplificando esta complementaridade, 2 doentes com o mesmo diagnóstico etiopatogénico podem ter níveis muito diferentes de funcionalidade, sendo também verdade que o mesmo nível de desempenho funcional não significa condições de saúde semelhantes.

Os conteúdos temáticos da CIF organizam-se segundo dois grupos de interesse, a funcionalidade / incapacidade e os fatores contextuais; o primeiro grupo inclui a componente corpo (função e estrutura) e a componente atividade e participação, enquanto o segundo se divide entre fatores ambientais e pessoais, já antes abordados. Os diversos componentes podem ser abordados em termos positivos ou negativos, facilitadores ou inibitórios (1) (18).

Assim, segundo a CIF a “função do corpo” é a função fisiológica de um sistema ou órgão, a “estrutura” é uma componente anatómica, a “deficiência” é um desvio ou uma perda na função ou estrutura, a “atividade” é a execução de uma tarefa ou ação e a “participação” é o compromisso com o quotidiano.

Os fatores contextuais, ambientais (individual ou social) e pessoais (as características pessoais e o estilo de vida); importa assim considerar o ambiente próximo, a família, o ambiente profissional, os serviços, o suporte social, as leis, bem como o sexo, a raça, a cultura, a condição física, a profissão, …).

A CIF integra assim o modelo biomédico, considerado tradicional (assistencial e de ensino) com o modelo biopsicossocial. No modelo biomédico a incapacidade é algo exclusivamente inerente ao paciente, algo individual e restritiva; no modelo biopsicossocial a incapacidade é uma condição multifatorial determinada pela sociedade. A funcionalidade surge assim como ideia dominante, considerando as necessidade do ser humano interagir com o seu espaço e com o seu tempo; trata-se de mudar o paradigma, construído no respeito pelos direitos do cidadão, uma perspetiva de inclusão e direito à vida.

O conceito “função” assume cada vez mais um interesse crescente enquanto variável decisiva em determinar a qualidade de vida; a função é vulgarmente entendida como uma forma de desempenho, uma atividade de relação com os outros e com o mundo. Pode ser entendida numa perspetiva biológica como uma atividade ou desempenho de tecidos, órgãos ou sistemas para manter um organismo vivo; trata-se de uma dinâmica própria entre a fisiologia e as ciências humanas (19).

Existimos porque funcionamos, com diferentes registos, próximos da necessidade vigente; o processo evolui no tempo e acompanha as mudanças de paradigma, os avanços tecnológicos e científicos.

A avaliação da função ou funcional é uma ideia chave da medicina de reabilitação, entendida como uma forma de valorizar uma atividade ou desempenho num momento específico ou entre momentos díspares no tempo, uma proposta de valorização (19) e de conhecimento das atividades biológicas e relacionais.

A correlação destes valores com referências clínicas da doença ou da deficiência facilita o desenvolvimento de cenários de prognóstico e gravidade considerando o histórico existente e os estudos comparativos.

Em termos funcionais importa conhecer o grau de desempenho de tarefas (autocuidados, mobilidade e transferências, controlo esfincteriano, locomoção, cognição social, comunicação …) referidas como atividades de vida diária simples, complexas e instrumentais, mas também a relação do nível presente com a condição funcional pré-patológica (3) (4).

As atividades simples são prioritárias neste processo de valor, já que condicionam o grau de envolvimento relacional; a história clínica pode incluir a “história funcional” como um elemento conducente à obtenção do diagnóstico etiopatogénico ou abordar esta temática de forma diferenciada num contexto de especificidade (20).

A “comunicação” é um elemento fundamental na história, referindo a limitação para ouvir, ler, falar ou escrever; importa compreender o grau de limitação e equacionar quais as metodologias (reeducação, ortóteses, tecnologias de apoio, …) que permitam melhorar o contacto com os outros. Também os “autocuidados” envolvendo a higiene pessoal e o cuidado com a imagem são elementos de grande significado no processo de integração, considerados como desempenhos de índole cultural, importantes no relacionamento com o meio e com os outros; trata-se de manter ou melhorar a imagem do corpo e a autoestima, ambas facilitadoras do processo de socialização.

A “alimentação”, quer na perspetiva de tomar os alimentos, sólidos ou líquidos, quer na capacidade de os procurar e preparar, fornecem indicações de autonomia e independência.

O “vestir” e “despir” são também atividades a considerar no âmbito da autonomia, já que qualquer dificuldade pode comprometer o contacto com outros indivíduos e a mobilidade no meio; ainda que a escolha do vestuário tenha características pessoais específicas, ela também permite compreender a coerência e adequação dos comportamentos, bem para lá da função protetiva do vestuário.

O “controlo vesicoesfincteriano” e a utilização da “casa de banho” são capacidades fundamentais na avaliação da dependência; pressupõe-se a necessidade de autonomia na utilização das instalações sanitárias e a continência vesical ou intestinal, socialmente adequada.

A incontinência ou a incapacidade de utilizar de forma autónoma uma instalação sanitária, com ou sem adaptações técnicas, manifesta uma profunda dificuldade de integração e autonomia no meio ambiente.

As disfunções esfincterianas condicionam também outras morbilidades, nomeadamente as úlceras de pressão (maceração cutânea, …), a infeção urinária (necessidade de manobras, algaliações, …) os fecalomas entre outras; a eficácia do treino vesicoesfincteriano e possibilidade de utilização independente das instalações sanitárias devem ser objetivos nesta área.

Deve ainda ser considerado o impacto na imagem do corpo e no autoconceito do indivíduo, bem como os constrangimentos admissíveis na atividade sexual e no estabelecimento de relações interpessoais.

A “autonomia no leito” e a capacidade de fazer “transferências” são elementos sensíveis do processo de integração; a autonomia no leito, incluindo a mudança de decúbitos, a posição sentada e a saída do leito permitem identificar níveis de autonomia e o risco de desenvolvimento de sequelas de imobilidade. A independência nas transferências (da cama para a poltrona, da poltrona para a cadeira de rodas, da cadeira de rodas para a sanita ou sofá, da cadeira de rodas para uma viatura automóvel, …significa uma possibilidade acrescida de integração e de interação com o meio ambiente; a mobilidade no leito e a capacidade de fazer transferências limita o isolamento e previne ou minora múltiplas consequências do imobilismo (úlceras de decúbito, limitações e atrofia muscular, trombose venosa profunda, pneumopatia de estase, perda de VO2 Max, entre outras.

Finalmente a “mobilidade” nas suas mais diversas alternativas (a marcha, a deambulação em cadeira, a utilização de veículos motorizados) complementa uma das primeiras aspirações do cidadão deficiente; deambular permite contactar com novas oportunidades e uma melhor integração social.

A marcha desloca o centro de gravidade com padrões diversos e eventuais auxiliares de marcha; importa valorizar a eficácia da marcha (o custo energético, a coordenação, a ativação das diferentes cadeias musculares, …), a velocidade, as características dos auxiliares de marcha, a possibilidade de subir ou descer degraus e rampas e a possibilidade de se erguer em caso de queda. A eficácia da marcha deve ser entendida em função do meio e das barreiras existentes, considerando que uma determinada deficiência pode contemplar diferentes incapacidades na marcha.

A possibilidade de deambular em cadeira de rodas depende do tipo de deficiência, da existência de barreiras arquitetónicas e das disponibilidades técnicas da cadeira; no doente hemiparético o sistema de propulsão e comando homolateral aumenta a funcionalidade e a cadeira de rodas elétrica permite a deambulação autónoma. A cadeira de “liga leve” é mais manejável e adequada ao transporte no automóvel e o espaldar elevado associado ao recuo do eixo posterior aumenta estabilidade (21).

A utilização de veículo automóvel adaptado facilita uma maior participação do paciente, explorando um meio mais extenso e sugerindo mais oportunidades; trata-se de adicionar ou modificar componentes segundo o tipo de deficiência explorando o potencial de reabilitação.

A capacidade de desempenho e/ou a dimensão da dependência pode ser valorizada com metodologias genéricas ou com instrumentos especificamente desenhados para um dado objetivo; uma proposta genérica e abrangente, classifica os desempenhos em “independentes”, “independentes com ajuda ou modificação de tarefa”, “assistência / supervisão em algumas tarefas”, “assistência física em algumas tarefas” e a “dependência completa”.

O conceito de avaliação funcional apresenta assim uma perspetiva métrica, na valorização do desempenho funcional (num dado momento e em diferentes tempos de da patologia) e na definição do potencial de reabilitação (permitindo a previsão de custos e adequação de recursos terapêuticos.

Para determinar o nível funcional utilizam-se índices de avaliação global (Barthel, Medida de Independência Funcional / MIF, …) ou instrumentos específicos de uma patologia (artrose, esclerose múltipla, …), de um segmento anatómico (joelho, coluna lombar, …) ou de uma atividade (manipulação de objetos, marcha, …).

Os instrumentos de avaliação devem ser válidos (validação cultural, …), sensíveis, reprodutíveis, representativos e exequíveis, interpretando o rigor científico.

O conceito funcionalidade ganha assim uma crescente atualidade, tornando-se um elemento-chave para operacionalizar a ideia de participação. Participação como já foi referido pressupõe a disponibilidade de um individuo se envolver em todas as áreas do seu quotidiano, expressando um estreito relação como o seu meio ambiente. A funcionalidade surge, pois, como um termo abrangente para as funções do corpo, as funções das estruturas, a atividade e a participação (22 a). Vai permitir a compreensão de todo o complexo processo de interação do individuo e do seu estado de saúde com fatores individuais e ambientais. O modelo descrito como “ciclo da reabilitação” ilustra de forma simplificada o processo de reabilitação funcional (22 b) identificando a necessidade de construir metodologias que monitorizam de forma sistemática os ganhos funcionais. Este modelo operativo refere assim 4 fases, nomeadamente “assessment”, “assignment”, “intervention”, “evaluation”, identificando a estratégia terapêutica e a dimensão multiprofissional do processo. De referir ainda a necessidade de compreender a utilização de diferentes tecnologias enquanto elementos fundamentais na gestão da funcionalidade. São descritas como ferramentas essenciais, adequadas aos fatores ambientais e individuais específicos, muitas vezes o primeiro passo para contornar uma determinada deficiência motora ou sensitiva (22 c). Os produtos de apoio e cada vez mais as tecnologias inteligentes são elementos de promoção da participação, fornecendo independência e a ideia de bem-estar. Estas últimas são promotoras dos conceitos de promoção da saúde e do envelhecer em casa. Desta forma a prescrição generalizada de diferentes tecnologias terapêuticas e produtos de apoio vai exigir a criação de normativos que promovam e facilitem um acesso universal e que identifiquem regras objetivas de prescrição, um processo cada vez mais sustentado na relação custo-benefício. São descritos diversos tipos de tecnologias no âmbito da mobilidade, comunicação, distúrbios sensoriais e cognitivos, prevenção ergonómica e de ambientes inteligentes.

As tecnologias ambientais inteligentes (TAI) apresentam um enorme potencial de promoção da funcionalidade, pois elas são facilmente incorporadas num determinado ambiente, podem adaptar-se às necessidades individuais e muitas vezes já podem antecipar / identificar futuras necessidades (22 d). Estas tecnologias devem humanizar o ambiente, devem ser fáceis de utilizar, devem inspirar confiança no utilizador e devem ser sustentáveis, tanto na vertente individual como ambiental. Importa sublinhar que o doente deve participar no processo de implementação e que todas estas tecnologias necessitam de um processo de integração com outras estratégias, já que isoladamente não promovem participação (22 e). Um tema de crescente atualidade é também a segurança intrínseca destas soluções, particularmente na dimensão ética e ainda como já antes referido a correta identificação da relação custo-benefício.

 

4 – A história da medicina física e de reabilitação

 

A MFR é uma especialidade “jovem” (22) com um elevado potencial de crescimento, decorrente da evolução das ciências médicas e da consciência humanista na cultura ocidental (1) (2) (3).

Esta denominação genérica é hoje consensual (1), afirmando a existência de duas principais áreas de interesse e intervenção clínica, respetivamente a “medicina física” e a “medicina de reabilitação”.

A medicina física tem uma expressão essencialmente terapêutica, com a utilização de agentes físicos (de termoterapia, de vibroterapia, de eletroterapia, de fototerapia, …) e técnicas cinesiológicas (de mobilização articular, de fortalecimento muscular, de inibição do tónus, de estimulação propriocetiva,); o processo de prescrição terapêutico decorre da elaboração de uma história clínica que permita essencialmente formular diagnósticos etiopatogénicos.

A medicina de reabilitação promove a identificação e terapêutica das consequências da doença (aguda e crónica), referidas como deficiências, incapacidades e desvantagens, bem como a exploração da função e a intervenção nos fatores limitantes do indivíduo e do meio ambiente (8).

A história clínica leva à prescrição de programas terapêuticos abrangentes e sistemáticos que conciliam a manipulação dos agentes farmacológicos, agentes físicos, técnicas cinesiológicas, produtos de apoio (próteses e ortóteses, auxiliares de marcha, dispositivos de compensação) e intervenção no domicílio.

Esta metodologia encontra-se viva nas culturas médicas e organizações sociais que mais recentemente promovem a medicina física e de reabilitação, sendo por exemplo muito interessante acompanhar a sua implementação na Sérvia e na Lituânia (23) (24), dois bons exemplos de diversidade na europa.

A organização da área enquanto entidade autónoma e diferenciada / especializada do conhecimento médico varia no tempo e na expressão, entre continentes e regiões (22) (23) (24) (25).

Nos EUA Frank Krusen inicia em 1938 um longo e difícil percurso, concluído em 1947 com o reconhecimento governamental desta nova especialidade clínica (25); a denominação “fisiatria” é expressa em 1936 significando as terapêuticas físicas e a “arte de curar”.

No Reino Unido a reabilitação médica adquire autonomia como especialidade em 1990, (apresentação de curriculum vitae e acreditação) (24); a língua alemã absorve a ideia de “agente físico” no século XIX (26), mas a criação do primeiro departamento hospitalar de medicina física e reabilitação, no New General Hospital de Viena, ocorre em 1991.

O reconhecimento das terapêuticas físicas é já longo no tempo (22). Hipócrates escreve sobre o benefício do movimento e exercício físico e a medicina romana descreve os princípios da hidroterapia e helioterapia.

Nicolas Andry em 1741 escreve a obra “A Ortopedia” e Joseph-Tissot em 1781 na obra “Ginástica Médica e Cirúrgica” surge como um dos percursores modernos da reabilitação motora (22); esta dimensão terapêutica é mais tarde ampliada na obra de Duchenne de Boulogne que introduz uma abordagem clínica que chega com alguma atualidade aos nossos dias.

Também nos séculos XVIII e XIX é descrita a aplicação de agentes de eletroterapia, na forma de correntes excitomotoras e analgésicas, particularmente a corrente galvânica e farádica.

Em 1890 Arsonval promove o conceito de diatermia, enquanto elemento de termoterapia, veiculando calor profundo, com correntes eletromagnéticas de alta-frequência.

A Iª Grande Guerra mundial com elevado número de feridos e mutilados, coloca necessidades específicas no âmbito terapêutico. Na IIª Grande Guerra mundial, a elevada incidência de politraumatizados, fraturas complexas, traumatismos vertebro-medulares, traumatismos de crânio e de amputados ultrapassa as previsões mais pessimistas fruto de uma tecnologia bélica mais evoluída.

A consciência humanista de uma Europa convalescente exigia abordagens terapêuticas globais, nos domínios das sequelas da doença e da inserção social; começa a fazer sentido a instituição de metodologias globais, sistemáticas e criteriosas, com recurso à medicina física e à reabilitação médica (27).

Também outras formas de sinistralidade, particularmente de viação e trânsito e do mundo do trabalho, apresentam valores epidemiológicos crescentes (22) (28); nas últimas décadas do século XX também a traumatologia decorrente da atividade física e desportiva adquire relevância e protagonismo (28).

As características do fenómeno desportivo, o número crescente de praticantes, as modalidades ditas “radicais”, os interesses inerentes ao fenómeno e a intensidade das metodologias utilizadas, justificam esta crescente casuística; os sistemas públicos e privados (particularmente as seguradoras) observam o fenómeno com crescente preocupação e sugerem metodologias de intervenção.

A incapacidade decorrente da atividade desportiva ultrapassa a dimensão do desempenho específico, projetando-se no prejuízo funcional das atividades de vida diária, lazer e profissionais (28).

No século XX os anos 20 favorecem o início de uma organização conceptual, os anos 30 o progressivo envolvimento do suporte médico e os anos 40 a evolução das terapêuticas físicas para um conceito alargado de reabilitação médica; começa a falar-se de um programa terapêutico, prescrito por médicos, fundamentado no diagnóstico etiopatogénico e na interpretação clínica das consequências da doença.

Ainda no início do século XX as consequências decorrentes da epidemia de poliomielite, com problemas neuromotores e respiratórios diversos criam desafios terapêuticos específicos (22) (28).

Em 1937 Paul Nelson faz uma revisão das ligações existentes ou havidas entre a electromedicina e a radiologia, experiência também vivida em Portugal nas décadas de 40 e 50 do século passado (28).

A medicina militar acompanhou e influenciou de forma decisiva a organização e implementação desta realidade clínica; Howard Rusk em 1943 demonstrou às chefias militares que o programa de reabilitação e a gestão da convalescença eram condições essenciais para restaurar a aptidão para o serviço nas forças armadas.

Esta prática assistencial fica cada vez mais compatível com a abordagem tradicional, fazendo dos clínicos militares “líderes visionários” da emergente especialidade médica (3) (27).

A cultura médica norte-americana apresenta os nomes de John Coulter, Frank Krusen, William Bierman e Richard Kovacs como pioneiros neste processo de consolidação conceptual (29); o nome de Howard Rusk fica ligado à capacidade de demonstrar que o processo de reabilitação restaura capacidades e reduz de forma significativa a duração e o custo da incapacidade.

Ainda nos anos 60 do último século, no 3º Congresso da Academia Americana, era discutida a denominação da especialidade (30) contrapondo-se a denominação “fisiatria” a “medicina física e de reabilitação”; Frank Krusen defende mais tarde que esta última é mais abrangente e eficaz, considerando o desenvolvimento da área em outras culturas e outras realidades médicas.

A dinâmica social torna-se cada vez mais envolvente e consolida a necessidade de uma abordagem global do doente, identificado a uma condição e a um determinado meio ambiente; o conceito de “centro de reabilitação” adquire forma e personalidade jurídica, tanto no âmbito público como privado.

A perspetiva interdisciplinar, conciliando o saber de diferentes profissionais médicos, permite uma contribuição diferenciada, nos domínios ortopédico e traumatológico, neurológico, reumatismal, urológico, pediátrico, geriátrico, medicina interna, cardiorrespiratório entre outros (22).

No entanto “apenas estamos no começo”, considerando as múltiplas necessidades que envolvem o cidadão doente ou limitado (24).

Em Portugal, o Dec. 38213 - 26/03/1951, denomina a área de Fisioterapia, sublinhando a dominância da utilização de agentes e técnicas físicas (31); já em 1944 a Ordem dos Médicos começa a atribuir o título de especialista em Fisioterapia.

A Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação surge em 1954, sendo o Dr. Francisco Formigal Luzes o seu primeiro presidente; em 1970 a Ordem dos Médicos formaliza a Medicina Física e de Reabilitação como especialidade médica (DL 225/70 – 18/05/1970), sendo atualmente uma das 43 especialidades médicas existentes no nosso País (31).

Publicações como “Last on the list” (32) sublinham que os problemas são extensos, que são pouco valorizados, que o envolvimento com os serviços nacionais de saúde é reduzido e que existem lacunas na formação dos estudantes de medicina e nos jovens médicos.

Diferentes centros de reabilitação assumem uma imagem de prestígio técnico e qualidade assistencial, nomeadamente em Portugal o Centro de Medicina de Reabilitação (CMR) e no Reino Unido o National Spine Injuries Centre (NSIC).

Em 1965, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, inicia a construção do Centro de Medicina de Reabilitação CMR em Alcoitão com os objetivos de promover a “reabilitação de diminuídos físicos com incapacidade motora” e “a formação de pessoal especializado” (33).

Em 1928 é já referida, em Lisboa no Hospital de Santa Marta, a Consulta de Fisioterapia, bem como o Serviço de Agentes Físicos, composta por 2 médicos e 4 ajudantes, prestando serviços de eletroterapia, eletrodiagnóstico, radiações e cinesiterapia (31). Progressivamente muitos hospitais Centrais e Distritais instalam os serviços de MFR públicos.

Em 1944, Sir Ludwig Guttmann, médico neurologista germânico, funda o NSIC, na localidade de Stoke-Mandeville, próximo de Londres, com o principal objetivo de promover a reabilitação funcional dos traumatizados de guerra (politraumatizados, traumatizados vertebromedulares e crânio-encefálicos e amputados).

Inicialmente em Stoke-Mandeville e posteriormente no âmbito do movimento olímpico, surgem os jogos Paraolímpicos, cuja primeira edição teve lugar em Roma no ano de 1960.

A diversidade das condições patológicas cria na especialidade uma vocação multidisciplinar (1) (2) que se traduz na colaboração com outros profissionais “não médicos” diferenciados na prestação de cuidados e práticas específicas.

Esta colaboração institucional envolve diversas áreas do conhecimento nomeadamente a Fisioterapia, a Terapia Ocupacional, a Terapia da Fala, a Enfermagem de Reabilitação, a Psicologia, a Ortoprotesia, o Serviço Social, a Nutrição, a Educação Física, o Aconselhamento Profissional entre outras.

O doente é o centro unificador de interesse entre os profissionais destas áreas e a exploração integral do potencial de reabilitação é o objetivo comum a atingir. O doente é sempre o elemento decisivo no processo terapêutico.

O médico especialista em MFR deve utilizar uma história clínica visando a obtenção do diagnóstico etiopatogénico, promover uma avaliação funcional e “a capacidade de mudança”, identificar as consequências da doença e dinamizar um programa de reabilitação que contemple as terapêuticas médicas e as tecnologias de apoio; é fundamental que identifique o nível atual de função e o nível necessário, que minimize os fatores limitantes “intrínsecos” e “extrínsecos” e que intervenha na integração dos produtos de apoio e na reabilitação comunitária.

É desejável que o médico coordene o processo de prestação de cuidados, assegurando que todos os profissionais possam participar num programa coerente, suportado pelas regras institucionais, pela experiência individual e validado na medicina baseada na evidência. Importa, no entanto, evitar a replicação de avaliações e aplicação de instrumentos métricos que se tornam desnecessários, maçadores para o doente e que na prática se traduzem por redução da prestação assistencial.

Esta metodologia comporta também o risco de duplicação dos mesmos cuidados entre diferentes profissionais, sem mais-valia terapêutica ou mais frequentemente a omissão dessa prestação, em áreas afins ou limítrofes; estes aspetos decorrem da natureza da intervenção terapêutica, multidisciplinar, abrangente e em permanente evolução e traduz também a falta de comunicação, a precariedade de organização e a falta de liderança.

A colaboração da família é habitualmente referida como um elemento favorável no prognóstico funcional; a família e os amigos são entendidos como um suporte informal, sendo importante o reforço de meios (reforço económico, adestramento específico, …) e o incentivo das atividades na comunidade.

Em Portugal a Direcção-Geral de Saúde publica no ano de 2002 a Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação (34), um documento que pretende organizar e orientar o desenvolvimento da assistência clínica em reabilitação médica; propõe como desejável a existência de “apoio em regime ambulatório e domiciliário”, “o serviço hospitalar” e o “centro mono ou pluriespecializado”, este último direcionado ao grande deficiente. Mais tarde em 2016 surge um novo documento denominado como “Rede Nacional de Especialidade Hospitalar e de Referenciação – Medicina Física e de Reabilitação”, um documento governamental (35) que entre outros itens faz um enquadramento legislativo e histórico, descreve a especialidade MFR, refere aspetos da demografia e necessidades previsíveis e entre outros aborda a questão dos indicadores de qualidade.

Na Europa a MFR está representada em 3 principais organizações, nomeadamente a European Academy of Rehabilitation Medicine (EARM); European Society of Physical and Rehabilitation Medicine (ESPRM); European Union of Medical Specialists PRM section (UEMS-PRM section); European College of Physical and Rehabilitation Medicine (ECPRM) - served by the UEMS-PRM Board (36).

A Academia Europeia de MFR refere na sua página official “This body of up to 50 senior doctors in the specialty across Europe was created in 1969. Academicians are invited on the basis of their distinguished contribution to the specialty, particularly its humanitarian aspects. The aim of the Academy is to improve all areas of rehabilitation for the benefit of those who need it. It thus promotes education and research across Europe, acting as a reference point in scientific, educational and research matters, exchanging ideas and information, facilitating the exchange of PRM doctors between different countries and engaging in moral and ethical debate. The Academy is entirely independent. Its publications support education and further research (37).

Concluindo esta apresentação conceptual da MFR, referimos a criação no âmbito da OMS o programa “Rehabilitation 2030: A Call for Action” (38), um programa ambicioso que pretende promover uma estratégia global de reabilitação planetária, criando lideranças e suportes nacionais e transnacionais, incorporando a ideia de reabilitação em todos os sistemas de saúde, facilitando o acesso de todos os doentes a estes cuidados, criando condições de sustentabilidade financeira para a implementação dos melhores programas terapêuticos, redes de cuidados e parcerias eficazes e ainda promover capacidade de investigação de forma a construir forte evidência científica nas suas prática e conceitos. Fica ainda implícita necessidade de uma cooperação entre países e regiões por forma a reduzir as assimetrias regionais e o impacto da pobreza enquanto barreira à promoção da reabilitação no mundo.

 

 

5 - Especificidades da história clínica em MFR

 

Em MFR a história clínica (HC) deve valorizar os elementos clínicos da doença ativa, as consequências da doença (na dimensão anatómica e fisiológica, no individuo e tarefas e no meio familiar e comunitário), a perspetiva funcional, a prevenção, a educação e o aconselhamento do doente. Ela segue de uma maneira geral toda a sistemática tradicional, mas importa veiculá-la a uma identidade própria, o que em boa verdade acontece em todas as especialidades médica, enquanto objeto de identidade e consistência teórica.

Importa estabelecer com objectividade o estado funcional atual e antecipar a evolução previsível da capacidade de desempenho. Conforme já publicado (39) (40) os objetivos da HC são de adequar o diagnóstico etiopatogénico (essencialmente para a compreensão da fisiopatologia e das opções terapêuticas) ao diagnóstico funcional cujo objetivo último é a promoção da funcionalidade e da participação.

A HC em medicina de reabilitação deve criar condições para que o “ciclo da reabilitação” possa ser conseguido (22 c). Assim o conhecimento do estado funcional do doente deve ser identificado já na anamnese, em aspetos que possam ser relevantes para o início do raciocínio clínico que constrói o diagnóstico médico. Entendemos ainda que o valor da funcionalidade em medicina de reabilitação é elevado e assim sugere também um posicionamento individualizado e mais exaustivo, em item dedicado, como História Funcional (HF) dedicada ao estado antes da doença e ao momento atual. Trata-se de um conhecimento necessário para valorizar o impacto das consequências da doença, quais os meios necessários para potenciar o “ciclo da reabilitação” e ainda para formular conceitos de prognóstico. Este processo de criação de conhecimento nas premissas da atividade e da participação pode ser mais global ou mais analítico, mas deve enquadrar-se sempre com as caraterísticas da doença ativa.

 A realização da HC em medicina de reabilitação deve sistematicamente verificar e valorizar diversos elementos, sintomas e sinais, em áreas específicas que pela sua sensibilidade e oportunidade fazem a gestão da ideia de atividade e participação, nomeadamente:         

- O contexto nociceptivo (a atividade inflamatória, a dor aguda e crónica, o derrame articular, a pressão compartimental, a contratura muscular, …).

- A mobilidade e a postura (amplitudes articulares, força muscular, atividade propriocetiva, tónus, coordenação, equilíbrio, …) em toda a sua diversidade biomecânica e controlo neuromotor.

 

- A marcha fisiológica e deambulação recorrendo a diferentes tipos de produtos de apoio, com diferentes níveis de exigência tecnológica.

 

- A capacidade de realizar atividades de vida diária (simples, complexas, instrumentais). Esta valorização deve ser individualizada e objetiva, permitindo avaliar o grau de dependência nesse desempenho (independente, diferentes graus de dependência ou necessidade de ajuda).

 

- As caraterísticas do meio ambiente, particularmente do domicílio no âmbito das acessibilidades e barreiras arquitetónicas e outros elementos passíveis de interferir na participação.

 

- As caraterísticas do suporte social e a acessibilidade a produtos de apoio e a tecnologias, mais ou menos inteligentes, enquanto suporte de autonomia. Deve aqui ser incluído a condição cultural e económico do individuo e do seu agregado familiar.

 

- As disponibilidades locais e regionais no âmbito da acessibilidade a serviços de MFR e de outros profissionais médicos e não médicos. Deve ainda ser identificado o grau de facilidade para a obtenção de produtos de apoio e outras tecnologias (referimos a sua prescrição, a sua aquisição e a sua integração domiciliária).

 

- A tolerância ao esforço, valorizada na capacidade aeróbia (consumo de Vo2 Max.) e na eficácia motora de um determinado desempenho; uma determinada deficiência e a prescrição de um material protético devem questionar o grau de condicionamento cardiorrespiratório.

 

A história clínica em MFR apresenta assim como conceitos estruturantes a dimensão biopsicossocial, a clínica da doença ativa e consequências de doença (deficiência, incapacidade e desvantagem), o conceito de função e potencial de reabilitação, a reabilitação comunitária e a qualidade de vida das populações.

Apresentamos alguns dos problemas clínicos mais frequentes em MFR, no processo de reabilitação em diferentes grupos etários (pediatria, idade adulta e geriatria), nomeadamente:

- As sequelas da imobilidade prolongada, a clínica dos cuidados continuados e dos cuidados paliativos.

- A deficiência da força (hemiplegia, tetraplegia, paraplegia, outra) e a clínica da lesão neurológica central e periférica. A clínica da patologia dos pares cranianos.

- A limitação de mobilidade (amplitudes articulares, força, atividade propriocetiva) e a clínica da patologia neurológica, musculosquelética, cardiorrespiratória, geriátrica …).

- A dor aguda e crónica (nociceptiva, neuropática, neoplásica) e a clínica da dor.

- A deficiência do tónus, do equilíbrio e da coordenação. A clínica do equilíbrio.

- Deficiências sensitivas e sensoriais e a clínica neurológica associada.

- A disfunção vesicoesfincteriana. A bexiga e o intestino neurogénico.

- A disfagia e as estratégias de compensação.

- A disfunção cardiorrespiratória e a clínica da reabilitação ao esforço e respiratória.

- A prescrição do exercício terapêutico (raquialgias, patologia musculoesquelética, patologia metabólica, síndromes de dor crónica, outras patologias).

- A incapacidade no desempenho de AVDs, a prescrição de produtos de apoio, a integração dos produtos de apoio, a reabilitação comunitária.

- As deficiências nas funções mentais superiores e a clínica de reabilitação.

- A clínica da amputação dos membros superior e inferior, em contexto vascular, traumático, neoplásico, outro e prescrição de materiais protéticos.

 

Poderemos assim enquadrar grandes temas de reabilitação, nomeadamente a reabilitação musculoesquelética (incluindo a reabilitação na traumatologia do exercício e desporto), a reabilitação neurológica, a reabilitação cardiorrespiratória, a reabilitação pediátrica, a reabilitação geriátrica, a reabilitação domiciliária, bem como outras áreas de intervenção mais específicas, particularmente a reabilitação de amputados, a reabilitação do equilíbrio, a reabilitação de queimados, a reabilitação senológica e linfedema, a reabilitação na doença mental, a reabilitação nas arteriopatias entre outras.

 

Considerando a necessidade de obter o diagnóstico etiopatogénico e utilizar a dimensão funcional são utilizados diferentes tipos de instrumentação complementar, que passamos a descrever:

 

- Índices e escalas funcionais genéricas ou específicas, enquanto elementos métricos.

- Dinamometria (isométrica, isocinética, …).

- Estudos urodinâmicos.

- Ecografia de tecidos moles, tanto na dimensão complementar de diagnóstico na área musculoesquelética como a ecografia de intervenção.

- Posturografia dinâmica.

- Plataformas de marcha, cinéticas e cinemáticas.

- Estudos eletrofisiológicos e biofeed-back.

- Consumo de oxigénio e outros parâmetros de tolerância ao esforço.

- Outros …

 

São aceites como competências do médico especialista em MFR (entre outras):

- Avaliação médica para determinar o diagnóstico subjacente.

- Avaliação da capacidade funcional e capacidade de mudar.

- Avaliação da atividade e participação, bem como os fatores contextuais.

- Elaboração de um plano de reabilitação.

- Conhecimento, experiência e aplicação de tratamentos médicos e físicos.

- Avaliação e mensuração de resultados.

- Prevenção e tratamento das complicações.

- Conhecimento de tecnologia de apoio em reabilitação.

- Dinâmica da equipe e habilidades na liderança.

- Capacidade de ensino e aconselhamento.

- Conhecimento do sistema social e legislação sobre a incapacidade.

- Implementar linhas de ensino e investigação nos domínios dos agentes físicos, técnicas cinesiológicas, produtos de apoio e nas áreas clínicas da medicina de reabilitação.

 

Em conclusão, e conforme muito bem caraterizado nos diferentes Livros Brancos da MFR na Europa (1a) (1) (2) a MFR é uma especialidade médica com enorme potencial assistencial e cada vez mais interventiva nas seguintes dimensões que consideramos estruturantes:

• Tratar a patologia subjacente, particularmente a doença ativa.

• Reduzir a deficiência e a incapacidade.

• Prevenir e tratar as complicações de diversas patologias.

• Tratar para potenciar a atividade e a participação

• Permitir uma completa funcionalidade do doente, enquadrada nos limites do modelo biopsicossocial, conforme filosofia médica definida pela OMS (40).

 

 

6 – A investigação em MFR. Algumas especificidades

 

6.1 – Introdução - A ciência e a investigação em Medicina Física e Reabilitação são preocupações relativamente recentes, assim como a especialidade, e apresentam alguns desafios e especificidades peculiares.

A metodologia de pesquisa, pretende preencher a lacuna entre biologia e comportamento. Trata se de promover uma ponte entre a célula e a funcionalidade.

Este processo de conhecimento e tomada de decisões geralmente tenta incluir três pontos essenciais: melhor evidência científica, expertise clínica e necessidades e desejos dos pacientes (41) (42).

 

6.2 - Os principais campos de atividade científica e de pesquisa de interesse em reabilitação, estão relacionados com as seguintes disciplinas:

a) neurociências, abrangendo todos os campos científicos e médicos relacionados ao sistema nervoso central e periférico: sua formação, desenvolvimento, funcionamento e envelhecimento normais e patológicos;

 

b) fisiologia, fisiopatologia, metabolismo e nutrição, sistema cardiovascular, sistema respiratório, ossos e articulações;

 

c) saúde pública, incluindo epidemiologia, bioestatística, economia e sociologia aplicadas à área da saúde;

 

d) tecnologias em saúde, especialmente imagens, desenvolvimento de medicamentos, biotecnologia, bioengenharia, técnicas intervencionistas para diagnóstico e tratamento médico;

 

e) biologia celular, desenvolvimento e evolução; genética, genómica e bioinformática.

 

 

6.3 – Principais características e especificidades da investigação em reabilitação (41) (42) (43):

 

1 - Abordagem multidisciplinar: envolve a colaboração entre médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros profissionais de saúde para atender às necessidades complexas de pacientes com uma ampla gama de deficiências.

 

2 - Foco centrado no paciente: é tipicamente centrada nas necessidades e objetivos dos pacientes, com o objetivo de melhorar seu funcionamento e qualidade de vida. Os pacientes frequentemente estão envolvidos no processo fornecendo feedback sobre intervenções e resultados.

 

3 - Medidas de resultado: são utilizadas para avaliar a eficácia das intervenções na obtenção de resultados desejados. Incluem medidas de função física, atividades da vida diária, qualidade de vida e dor.

 

4 - Ensaios clínicos randomizados: são considerados o padrão de referência para avaliar a eficácia de intervenções de reabilitação. Envolvem a alocação aleatória de participantes para receber a intervenção em estudo, um placebo ou tratamento alternativo, e depois comparar os resultados entre os dois grupos.

 

5 - Estudos longitudinais: estudos que acompanham os pacientes ao longo do tempo para avaliar os efeitos de longo prazo das intervenções e mudanças no funcionamento.

 

6 - Uso de tecnologia: envolve o uso de tecnologia, como realidade virtual, robótica e dispositivos vestíveis, para aprimorar ou complementar intervenções tradicionais e melhorar os resultados.

 

7 - Considerações éticas: deve levar em consideração as considerações éticas únicas envolvidas no estudo de populações vulneráveis com deficiências, como obtenção de consentimento informado e proteção da privacidade e dignidade dos participantes.

 

8 – Relação com atividades quotidianas: no desenvolvimento e teste de intervenções que podem ser implementadas na prática clínica para melhorar os resultados dos pacientes em ambientes do mundo real.

 

7 – Referências bibliográficas

 

1a – White Book on Physical and Rehabilitation Medicine (PRM) in Europe. Chapter 1. Definitions and concepts of PRM. Eur J Phys Rehabil Med. 2018 Apr; 54(2):156-165. doi: 10.23736/S1973-9087.18.05144-4.

 

1 - White Book on Physical and Rehabilitation Medicine In Europe. Editors Gutenbrunner C, Ward A, Chamberlain A. Europa Medicophysica. 2006. 42, 4:286-332.

 

2 – Libro Blanco de Medicina Fisica y De Rehabilitacion. Editado y con el patrocinio de Universidade Complutense de Madrid. 1988.

 

3 – DeLisa J, Currie D, Martin G. Rehabilitation Medicine: paste, present and future. Rehabilitation Medicine: Principles and Practice. Third Edition. Chp 1, 3-33, Lippincott-Raven Publishers, 1998.

 

4a) João Páscoa Pinheiro. Reabilitação das Lesões no Desporto, “Reabilitação da patologia traumática do osso e da articulação”, Editorial Caminho, 2006.

 

4 – Kotte F, Lehamn J, Stillwell G. Prefácio. Krusen: Tratado de Medicina Física e Reabilitação. Terceira Edição. 11-20, Editora Manole lda, 1986.

 

5 – International Classification of Impairment, Disabilities and Handicaps: a manual of classification relating to the consequences of disease. Geneva, Switzerland: World Health Organization. 1980.

 

6 – Jette A. Physical Disablement Concepts for Physical Therapy Research and Practice. Phys Ther. 1994, 74, 5:380-386.

 

7 – Brandsma J, col. The International Classification of Impairment, Disability and Handicapa (ICIDH1): a manual of classification relating to the consequences of disease? J Rehabil Sci. 1995, 8:2-7.

 

8 – Kirby R. Impairment, Disability and Handicap. Rehabilitation Medicine: Principles and Practice. Third Edition. Chp, 55-60, Lippincott-Raven Publishers, 1998.

 

9 – Scotch R. Paradigns of American Social Research on Disability: What’s New? Disability Studies Quarterly Spring 2002. Chapt 22, 2, pag 23-34, Society for Disability Studies. (www.cds.hawaii.edu).

 

10 – Verbrugge L, Jette A. The disablement processes. Soc Sci Med. 1994, 38:1-14.

 

11 – National Advisory Board on Medical Rehabilitation, draft V. Report na Plan for Medical Rehabilitation Research. Bethesda, Md: National Institutes of Health, 1992.

 

12 – Pope A, Tarlov A. Disability in America: Toward a National Agenda for Prevention. Committe on a National Agenda for the Prevention of Disabilities, Institutue of Medicine. National Academy of Sciences. Summary, Chap 3. 1991.

 

13 – Barbotte E. col. Prevalence ofimpairments, disabilities, handicaps and quality of life in the general population: a review of recente literature. Bulletin of the Worlth Health Organization, 2001, 79:10-47-1055.

 

14 – Levy C. A people’s History of the Independent Living Movement. Independent Living . World Institute on Disability.

Online in: http://www.independentliving.org/docs5/ILhistory.html

 

15 – Berkel R, col. The concept of inclusion/exclusion and the concept of work. Active Social Policies in the EU. The Policiy Press. Bristol. Chap 2, pag 15-44, 2002.

 

16 – International Classification of Functioning and Disability. Short Version. Assessment, Classification and Epidemiology Group. World Helath Organization, Geneva, Switzerland. July 1999. (www.who.ch/icidh)

 

17 – The role of environement factos in functioning and disability. A literature review. World Helath Organization. May 2000.

Online: (http://www.who.int/classifications/icf/site/icftemplate.cfm)

 

18 – International Classificatuion of Functioning Disability and Health. World Helath Organization. May 2001.

Online: (http://www.who.int/classifications/icf/site/intros/ICF-Eng_Intro.pdt)

 

19 – Pinheiro J, Gomes C. Avaliação Funcional nas Doenças Reumáticas. Revista Portuguesa Medicina Física Reabilitação. 2002, 2, 10:25-28.

 

20 - Rolland P, col. Clinical evaluation. Rehabilitation Medicine: Principles and Practice”, Joel A. DeLisa, capitulo 5, 61-108, J.B.Lippincott Company, 1998.

 

21 – Pinheiro J, col. Conceitos introdutórios. A cadeira de rodas e o cidadão deficiente. Cadeira de Rodas. 9-22. Editora Quarteto. Coimbra. 2004.

 

22a - http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/42407/1/9241545429.pdf

 

22 b - Rauch A, et al. How to apply the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) for rehabilitation management in clinical practice. Eur J Phys Rehabil Med. 2008; 44: 329-42.6

 

22 c - http://www.who.int/disabilities/technology/gate/en/

 

22 d) https://en.wikipedia.org/wiki/Ambient_intelligence

 

22 e) J van Hoof et al. Ageing-in-place with the use of ambient intelligence technology: Perspectives of older users. International journal of medical informatics. 2011; 80:310 -331

 

22 – Grossiord A. Préface. IX-XIII. Médicine de Rééducation. Flammarion Médecine Sciences. 1980.

 

23 – Kriscanas A. Rehabilitation System in Lithuania (past, presente and future). Medicina (Kaunas). 2005; 41(3):246-50.

 

24 – Conia Z, Lazovia M. Contributions to the story of Foundation and development of physical medicine and rehabilitation services in Servia. Med Pregl. 2006; 59 Suppl 1:9-12.

 

25 – Opitz J, col. The hystory of physical medicine and rehabilitation as recorded in the diary of Dr Frank Krusen: Part 1. Gathering momentum (the year before 1942). Arch Phys Med Rehabil. 1997 Apr; 78(4):442-5.

 

26 – Fialka-Moser V. Physical medicine and rehabilitation: past-present-future. Disabil Rehabil. 1999 Sep; 21(9):403-8.

 

27 – Dillingham T. Physiatry, physical medicine, and rehabilitation: historical development and militar roles. Phys Med Rehabilitation Clin N Am. 2002 Feb; 13(1):1-16 v.

 

28 – Pinheiro J. Reabilitação das Lesões no Desporto, “Reabilitação da patologia traumática do osso e da articulação”, Editorial Caminho, 2006.

 

29 – Kottke F, Knapp M. The development of physiatry before 1950. Arch Phys Med Rehabil. 1988 Oct; 69 Spec No: 4-14.

 

30 – Johnson E. Struggle for identity: the turbulent 1960s. Arch Phys Med Rehabil. 1988 Oct; 69 Spec No: 20-5.

 

31 – Sampaio F. Formação Pós-Graduada. Que futuro? Comunicação Oral, Simpósio MSD, 2007, Ericeira. Portugal.

 

32 – Beardshaw V. Last on the list: community services for people with physical disabilities. London: King Fund Institute, 1988.

 

33 – Centro de Medicina de Reabilitação do Alcoitão. Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. História. (Online: http://cmra.pt/centro/historia/).

 

34 – Direção Geral de saúde. Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação, 2002.

(Online: http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i006180.pdf)

 

35 - https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2016/11/RRH-MFR.pdf

 

36 - European Physical and Rehabilitation Medicine Bodies Alliance. White Book on Physical and Rehabilitation Medicine (PRM) in Europe. Chapter 1. Definitions and concepts of PRM. European Journal of Physical and Rehabilitation Medicine 2018 April; 54(2):156-65 DOI: 10.23736/S1973-9087.18.05144-4.

 

37 - http://www.aemr.eu/

 

38 - https://www.who.int/news-room/events/detail/2017/02/06/default-calendar/rehabilitation-2030-a-call-for-action

 

39 - Joana Martins, Sofia Lopes, João Pinheiro. “História Clínica em MFR: Um elemento para a funcionalidade”. Rev SPMFR, 2019, 31, 1, 27:25-31.

 

40 - https://uems-prm.eu/wp-content/uploads/2020/03/physical_rehabilitation_medicine_for_medical_students.pdf

 

41 - Livro Branco sobre Medicina Física e Reabilitação (MFR) na Europa. Capítulo 10. Ciência e pesquisa em MFR: especificidades e desafios. Revista Europeia de Medicina Física e Reabilitação 2018 abril;54(2):287-310.

 

42 - Grimby G. Pesquisa e publicação em medicina de reabilitação. J Rehabil Med. 2009 Nov;41(13):1021-3. 82.

 

43 - Seel RT, Dijkers MP, Johnston MV. Desenvolvendo e usando evidências para melhorar a prática de reabilitação. Arch Phys Med Rehabil. 2012 Ago;93(8 Suppl): S97-100.

 

 

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